9.6.07

Agressões a trabalhadores assentados

DENÚNCIA URGENTE

Nós cidadãos de Porto Alegre do Norte - MT, preocupados como o clima de violência a que estão submetidos trabalhadores rurais do Projeto de Assentamento Fartura, localizado no Município de Porto Alegre do Norte – MT, vimos por meio desta comunicação, formalizar denúncia a respeito do ocorrido hoje 07/06/2007, por volta das 12h00min, neste Município, quando os moradores do Assentamento foram vítimas de agressões e constrangimentos por nove homens fortemente armados, prováveis pistoleiros que, de acordo com esses mesmos homens, estavam ali a mando do Deputado Estadual pelo Estado de Goiás, Samuel de Almeida, do PSDB-GO.
De acordo com o depoimento de alguns trabalhadores acampados na área, os supostos pistoleiros chegaram agredindo os moradores, sob a mira de armas, identificando-se como policiais federais, inquiriram diversas pessoas de maneira constrangedora, chegando inclusive, agredir fisicamente algumas. Em seguida mandaram que os moradores tirassem os seus pertences rapidamente, e antes mesmo que as pessoas terminassem de tirá-los, eles atearam fogo nos barracos.
Vale registrar que no sábado, 02/06/07, passou um veículo com algumas pessoas que detonaram vários tiros em direção ao acampamento e, queimaram dois barracos em frente ao acampamento. Os acampados registraram ocorrência na delegacia de polícia local, e, no entanto além de não receber cópia da ocorrência, não foram tomadas quaisquer providências.
Outro fato que merece toda atenção, foi o de os supostos pistoleiros terem fotografado os acampados presentes e ainda, ameaçaram que se houvesse qualquer denúncia para a Polícia Federal, as pessoas seriam assassinadas.
Nesse sentido solicitamos que sejam tomadas as providências cabíveis e urgentes, de acordo com as competências das instituições comunicadas. Encaminhamos em anexo depoimentos de algumas vítimas.

Porto Alegre do Norte, 07 de junho de 2007.

Assinam essa denúncia.

José dos Santos Pereira Vasconcelos
Secretário Municipal de Agricultura-SMA_PAN

Comissão Pastoral da Terra – CPT-Araguaia
Centro de Direitos Humanos Sofia Araújo-CDHSA

Diretório Municipal do PC do B – PAN

Movimento Popular de Saúde –MOPS

Diretório Municipal – PT-PAN

Associação Terra Viva –ATV- PAN.

Marilde Garbin
Vereadora do PT-PAN

DEPOIMENTO

João de Sousa Lima, uma das vítimas: “Eu estava deitado, quando ouvi um carro se aproximar, pensei que era meu genro que estava chegando para nós ir pescar, e de repente me vi de frente de nove homens armados que chegou em dois carros dizendo que eram policia federal, eles pediram que ninguém corresse, que todos colocassem as mãos na cabeça, sendo que eles estavam armados e nós não tinha nenhuma arma, eles andaram ao redor do barraco procurando armas – nós não tinha arma, mas eles apareceram com um revólver dizendo que tinham encontrado lá. – depois me colocaram dentro do carro e me levaram para outro barraco do lado do Pedro Duarte, mais conhecido como Pedro Doido. Era o barraco do Pedro Branco, chegou lá encontrou o Pedro Branco e o Sr. Elpides, foram procurar armas e não encontrou, atiraram numa galinha, mas o tiro não pegou. Aí botou os trem lá fora, ai jogaram uns trem que tinha numa cisterna e botaram fogo no barraco. Aí, nessa hora perguntaram pro Pedro Branco quem é o chefe aqui? Aí seu Elpides disse que ninguém era chefe, que todos eram chefes, que o líder do acampamento era eu. Aí, eu falando com eles lá, um deles rumou a mão na minha cara, que eu quase caí, um deles disse para não bater no “velho”. Vieram e pediram desculpas e eu fiquei calado. Puxaram a faca lá, pra me furar, cortar o pescoço, furar orelha, me humilharam demais, eu e os demais companheiros também. Aí botaram eu dentro do carro, disseram que íam me matar. Puxaram a faca pra mim e disse que ia me matar. Eu disse que se quiserem podem me matar, mas não me batam. Um disse: “esse velho tem a boca dura”. Eu disse “boca dura não. Me apego é com Deus. Ai um disse “que Deus que nada”, outro cortou ele dizendo “agora você foi longe demais. Vamos respeitar Deus e também o velho que tem 77 anos”. Eles se tratavam como coronel, delegado, doutor, tudo da polícia federal, nenhuma polícia civil e nem militar. Mas não revelam nome. Depois nós tornemos a voltar pra mesma casa que estava, voltamos para o caminhão, botamos os trem dentro do caminhão e fui com eles até o acampamento. Lá tinha um rapaz que era irmão do Sonzinho, ai botou Sonsinho sentado, colocou o revólver na cabeça dele, depois disse que se não aparecesse o dono do tal revólver íam atirar na perna de cada um. Quando chegando lá, eles já estavam com três carros, duas pequenas que era uma S10, e uma D20 de gaiola e o trator. Disse para nós tirar os trem logo que iam tocar fogo. Lá D. Bené tinha uma cachorra parida, botaram fogo em tudo, e tinha um cachorrinho se arrastando pegando fogo, um disse “vou matar esse aqui logo”, e matou. Eles eram nove pessoas, todos os nove armados. Nós era seis adulto e uma criancinha de seis anos. A meninazinha chorava bastante, não queria nem ir lá dentro da cabina, queria ir em cima com a mãe. Nós amontoamos os trem logo tudo, não dava tempo de muita coisa, cortamos até as cordas da rede porque não dava tempo pra desatá, eles no pé, com a espingardona na mão. E os nomes, eles não chamava ninguém pelos nomes nosso não. Era sem-vergonha, era invasor, era nome tudo feio. Perguntaram se achavam bão eles invadir minha casa, minha terra lá, tomar a casa com neto tudo, igual eu invadir a terra dele, ai eu disse: rapaz, eu num tô na sua terra. Nós tamo nesse acampamento, fora, fora da sua terra. A gente foi lavar roupa. Que lá onde a gente tá, é água de cisterna, secou tudo. Lavar roupa e arrumar o barraco dum fazendeiro aqui. Eu chamo ele de fazendeiro que é apelido, e esperar o menino vim com o caminhão que era pra nós ir pra casa do Altair. Nós ia todo mundo nós lá, dormir lá, pra ir pescar. Nós num tava nem mexendo com as coisas dele. Ah! E perguntou até sobre um gado que tava lá, mas o gado era do Alfredo, que ia matar tudo, disse que é rapaz matar é dele, num é nosso não. Rapaz a gente num dá conta de ver tudo não porque o momento é duro. Nove homens e nós era sete, seis adulto e uma criança e era ao redor de nós assim, num podia nem urinar, eu mesmo pra fazer xixi de traz da casa e eles atraz de mim. E disse, depois eles tirou foto nossa e disse “se der parte pra Federal, vou matar vocês de um por um. Ai me deu vontade de perguntar “ces acabou de dizer que era da Policia Federal, Coronel e num quer que vai dar parte? Se é a Federal nós vai dar parte pra quem? A policia civil, não resolve, a PM também não resolve, quem pode resolver nosso caso a Federal e ia dar parte pra ninguém. Porque primeira coisa que nós temos primeiro lugar Deus e segundo a Federal e já era a Federal. Ai sai, vimos queimar os Barraco tudo, que não tinha outro modo. E se nós fosse também lá na delegacia, denunciar eles, eles iam ficar lá esperando que iam matar um lá na porta nossa. E matavam e não tinha nada. E falava também lá, estava lá, mas eles eram mandado, podiam matar qualquer um lá que não acontecia nada., que eles eram um grupo grande e são unido. “Tinha ido pra matar, “eu vim pra matar esse velho, mas ta a fia dele chorando muito, a neta e os outros” e eles era mandado, mas era mandado e não dizia de quem era. No que ele botou fogo no barraco eu disse rapaz aqui não pertence a vocês aqui é outra área, “Cala Boca Rapaz, queima tudo”...e queimou mesmo.Roupa, rede, só pela metade, já queimava lá, a lona queima rápido e tinha umas palhinha por cima. Fogo subia naquilo tudo. Depois que humilhou muito se fosse entrar lá matava. Se for mata. Cataram uns cinco facão nesse acampamento, os facão eles pegaram tudo e carregaram. “olha aqui as armas que eles tem aqui”. Pegou os facão e carregou. E era se batendo caçando arma, caçando arma, não achou nada. Falei “rapaz nós num tem aqui. As armas que nós temos aqui foice, facão, machado, o que eles achavam eles botavam no carro e levavam. Então é assim, eu num sei como faz. Ai eles ainda disse assim quando acabou o trato, disse assim “óia:” falou pro outro rapaz lá que tava comprando o lugar. Ele disse “oia: o deputado me deve seiscentos mil, e eu to recebendo essa terra”. Ai outro disse “bom. Agora ta limpo. Tá recebido?” Aí outro: “tá, tá recebido”. Porque nós falemos que não voltava. E disse que ia ficar lá sessenta dias pra ninguém oia lá, pra ninguém entra lá mais. Ficava lá olhando sessenta dias, queria ver quem que botasse o rasto lá dentro.

OBS 1: Neste depoimento tiveram participação Luiz Oliveira Campos; Elpides Lourenço Roxo; Hortência Oliveira Campos e Sueli Sousa Lima que são acampados e também foram vítimas das mesmas humilhações.

OBS 2: O caminhão citado no depoimento, é de uma pessoa que iria pescar com os acampados e que acabou sendo envolvido no caso. Foi humilhado e obrigado a transportar os pertences e os acampados para a cidade.

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